segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

IMPORTÂNCIA DO CATECISMO


ARTIGO - O Testemunho de Fé - 17/12/2010
Cardeal Eugenio de Araujo Sales
Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro


Já tive a oportunidade de comentar em outras ocasiões o Catecismo da Igreja Católica. No entanto, sua relevância para a missão da Igreja e o bem que faz aos fiéis e a outras pessoas de boa vontade, justificam uma nova abordagem.

O Catecismo da Igreja Católica é um instrumento precioso “que ajuda a aprofundar o conhecimento da fé. Representa um válido e seguro instrumento para os presbíteros na sua formação permanente e na pregação; para os catequistas na sua preparação remota e próxima para o serviço da Palavra; para as famílias no seu caminho de crescimento rumo ao pleno exercício das potencialidades ínsitas no sacramento do matrimônio; para os teólogos, que poderão encontrar uma autorizada referência doutrinal para a sua incansável investigação. Apresenta-se, enfim, como precioso subsídio para a atualização sistemática daqueles que trabalham nos múltiplos campos da ação eclesial (Discurso do Papa João Paulo II, 8 de setembro de 1997).

Mesmo os não pertencentes à Igreja têm aí o autêntico ensinamento de Cristo. Isso facilita o discernimento entre a doutrina sã e as elucubrações de indivíduos que acobertam suas interpretações pessoais e errôneas sob o nome de “católicos”. O conteúdo do Catecismo é a aplicação da Revelação divina à vida de cada um. Ele nasce da Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura e na Tradição e, estudado, ilumina nossos passos.

Foi o resultado de anos de atividade em que, sob a presidência do então Cardeal Josef Ratzinger, na época Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, uma comissão de teólogos das várias partes do mundo trabalhou intensamente. O texto foi submetido à apreciação do episcopado da Igreja inteira, recebendo então poucos retoques, sendo aprovado em junho de 1992 pelo Papa João Paulo II.

A obra se dispõe harmonicamente em quatro partes: 1) A Fé professada (Credo); 2) A fé celebrada (a Liturgia); 3) A Fé vivenciada (a Moral); 4) A Fé feita oração e o Pai-Nosso. A leitura do texto é fácil e agradável. Está longe de ser uma cartilha inovadora de pecados.

Somos bombardeados, em nossa época, por uma variedade de conceitos, propostas e idéias as mais diversas e contraditórias. Em meio a esse vozerio, onde está o certo? Como diferenciá-lo do errado? Como agir? Para que houvesse uma solução a cada problema e em todas as circunstâncias, veio Cristo nos ensinar. Sua doutrina está consignada nos Livros Sagrados e na Tradição, ambos confiados ao Magistério vivo.

Como a verdade é eterna, essas diretrizes são perenes. Ocorre que, ao passar dos anos, surgem novas realidades, que pedem uma orientação de acordo com o doutrinamento do Senhor Jesus. Para isso, a Igreja acompanha o gênero humano em suas interrogações e lhe proporciona a informação solicitada. E o faz com a garantia que lhe deu o Mestre: “Quem vos ouve, a mim ouve” (Lc 10,16).

Acresce a necessidade de ter, com presteza, o atendimento às nossas inquietações e perguntas.

Para tudo isso têm sido, desde o início da Igreja, preparados escritos que solucionem essas carências. No início da Igreja houve obras com essa finalidade. A Didaqué, no século I, é um exemplo. Tivemos um célebre Catecismo, que atravessou séculos e nele aprendemos em nossa infância a Doutrina de Jesus. Foi o Catecismo chamado “do Concílio de Trento” ou “de São Pio V”. Hoje, eis que temos o Catecismo da Igreja Católica, continuação do anterior, atualizado em suas respostas aos problemas novos à luz do Vaticano II. No entanto, nada de essencial é alterado.

O homem moderno, enfrentando as mudanças freqüentes, tem nesse livro precioso o caminho certo. Para encontrá-lo, basta buscá-lo nessa obra. Aí está, de maneira sistemática, compreensível e integral.

O Catecismo nasce da Bíblia e da Tradição. Ao mesmo tempo, leva a elas seu leitor. Todo o texto torna mais claros e ordenados os assuntos. Há um índice remissivo que facilita a procura de temas e questões.

Sem dúvida, é importante ter em casa, na mesa de trabalho, a Bíblia, que contém a Palavra de Deus. Igualmente o Catecismo da Igreja Católica. Urge, no entanto, estudar mais o conteúdo desse livro. Obviamente, antes de tudo, está a leitura diária e piedosa da Sagrada Escritura. O Catecismo da Igreja Católica nos é proposto não tanto para termos a posse de um exemplar, mas com o objetivo de nos fazer aprender e praticar seus ensinamentos, considerando as diretrizes que nos dá.

Cada ser humano tem necessidade de adquirir conhecimentos, inclusive no campo religioso. O nível das lições é diverso. Como crianças, temos uma compreensão muito elementar. Ao passar dos anos, as exigências de maior conhecimento de nossa Fé se avolumam. São outras interrogações, que exigem respostas convincentes. Em todos há algo de comum: a dimensão eterna da vida humana. O destino futuro, após a morte, dependerá de nossos atos hoje e à eles condicionados. Isso nos mostra nitidamente a importância do estudo do Catecismo, que nos proporciona a orientação de cada ato de nossa existência. Vê-se assim, claramente, como essa obra está intimamente relacionada com nosso presente e o futuro.

Diz-se muitas vezes que o mundo se distanciou de Deus. A verdade é que, em nossos dias, cresce a fome do Sagrado. Vivamos, pois, segundo a Doutrina de Jesus e tenhamos no Catecismo um tesouro para nossas vidas.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A ADOLESCÊNCIA


"Em termos gerais, é preciso observar que a crise espiritual e cultural que atinge o mundo faz as suas primeiras vítimas nas jovens gerações. Assim como é verdade que o empenho em favor de uma sociedade melhor encontra nestas as suas melhores esperanças.
Isso deve estimular ainda mais a Igreja a realizar, corajosamente e criativamente, o anúncio do Evangelho ao mundo juvenil" (DGC 181)

Características desta fase:
“É necessário amar mais e melhor o adolescente e ter paciência para trabalhar a longo prazo. O que nos parece desagradável é, na verdade, uma riqueza mal definida: ruptura com o passado; desejo de se afirmar; capacidade de admiração; desejo de tudo conferir; imensa afetividade; necessidade de atividade; sonhos e idealismo; necessidade de amizade; espírito de imitação.” (Madre Maria Helena Cavalcanti)

A adolescência caracteriza-se pela maturação dos órgãos e das funções sexuais, da conquista da autonomia e das primeiras tentativas de escolha de vida.

No plano afetivo a puberdade cria tensões e problemas que devem ser observados e solucionados: incerteza acerca do próprio desenvolvimento sexual, dificuldade em dominar impulsos e emoções, luta pelo controle emotivo, ampla visão dos próprios sentimentos. Cresce o sentimento de independência e autonomia. Porém tudo isto ainda é mesclado com saudade do passado e a ansiedade do futuro. Daí o adolescente tornar-se inseguro, tímido ou orgulhoso e agressivo, alegre e triste, fechado ou acolhedor.

O adolescente também está construindo novos esquemas de relacionamento: alarga os conhecimentos e as amizades; identifica-se com os heróis, une-se aos amigos da mesma idade. Passa a conquistar aos poucos sua liberdade. Assume linguagem e modos de comportar-se diferente dos pais. Rejeita os modelos do passado. De uma maneira geral, o adolescente vive incerto a respeito de si mesmo e sobre o que poderá ser, vivendo freqüentemente numa realidade sócio-cultural difícil e hostil. Daí o perigo de fugir pelo consumismo, pelos vícios, e pela prática sexual precoce.

No plano do desenvolvimento cognitivo há importantes conquistas:

-> Passagem do pensamento lógico-concreto para o abstrato, capaz de indução-dedução, análise-síntese, hipótese-verificação, conquistando assim um maior pensamento realístico e objetivo.

-> Alargamento dos interesses, desejo de conhecer, compreender, discutir os problemas e encontrar soluções para os mesmos;

No plano do desenvolvimento espiritual observamos:

-> A concepção de Deus vai se espiritualizando cada vez mais: Deus é alguém que é diversidade e mistério, presença interior e amigo fiel. O encontro com Deus vai se transformando como o encontro de pessoa a pessoa, cheia de simplicidade, liberdade e amor. Ao mesmo tempo, pode ser um período de dúvidas, incertezas emotivas, experiências “religiosas” ou mesmo indiferentismo religioso.

A pertença à Igreja pode fortalecer-se nesta fase, desde que se encontre uma comunidade acolhedora que leve o adolescente a uma experiência concreta de grupo.
Em relação ao desenvolvimento moral, percebe-se a passagem de uma moral material (o que conta é a ação em si mesma) a uma moral de intenção (o que conta é o “porquê” da ação realizada); duma moral externa a uma moral autônoma, fruto das escolhas das pessoas. É preciso atenção a esta fase para que o adolescente não seja levado por um relativismo ético ou um rigorismo doentio, mas sim à interiorização dos valores, com um senso crítico e opção livre, baseados na orientação de um adulto equilibrado.

Em relação à família, pode-se fazer os seguintes questionamentos:
-> Qual a religião que o adolescente vê no seu lar?
-> Será que em casa os pais dão verdadeiro testemunho cristão?
-> Será que na hierarquia dos valores da vida no lar, o mais importante é a amizade com Cristo e o engajamento em sua Igreja?

-> Será a conduta dos pais norteada por princípios cristãos?

-> Será que os pais dispensam à educação religiosa dos filhos, ao menos a metade da atenção que
dispensam à instrução profana?

-> Será que os pais dão uma nova apresentação da fé, proporcional às necessidades do adolescente?

Procedimentos catequéticos:
Ainda que a adolescência seja uma etapa da vida complexa e diversificada, pode-se traçar algumas linhas catequéticas comuns:
-> Catequese sistemática e de aprofundamento;
-> Catequese de interiorização;
-> Catequese participativa;
-> Catequese de iniciação eclesial e comunitária.

Conclusão:
“O educador da fé de um adolescente deve ter consciência de que é um instrumento de Deus e que não há ‘truques para êxitos fáceis’. A catequese dos adolescentes necessita de: muita caridade, inteligência, trabalho, criatividade, continuidade nos esforços” (Madre Maria Helena Cavalcanti).

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

PSICOPEDAGOGIA DAS IDADES - 12 A 14 ANOS


Há necessidade de uma certa flexibilidade para determinar o início e o fim das diversas etapas do desenvolvimento. O menino ou menina que está entrando na adolescência é diferente daquele ou daquela que já está em plena adolescência. O pré-adolescente (12 - 14 anos) está numa idade de transição entre criança e adolescente e vê-se que tal fase é freqüentemente esquecida no plano do ensino religioso e da catequese. Os educadores e os catequistas não sabem como interessá-los, como tratá-los e ficam desanimados diante de determinadas atitudes. O educador precisa, portanto, procurar compreender o que leva os pré-adolescentes a terem atitudes de indisciplina, crítica, instabilidade e agitação a fim de procederem mais eficazmente.

1 - PSICOLOGIA
É um período original, fase de transição entre criança e adolescente. Há uma ruptura do círculo infantil, um vai e vem entre os interesses próprios da infância e da adolescência e busca de uma personalidade nova, mas num nível exterior e sensível. Vejamos, portanto, algumas características desta fase:

A- Liberdade que desperta
1. O pré-adolescente se afirma, opondo-se (fase de oposição):
• a oposição pode ser violenta e exterior: algazarra, originalidade e crítica;
• não convém ao educador dobrá-los à força mas procurar orientá-los e motivá-los.
• formam grupos unidos na camaradagem que ainda não é amizade.

2. Instabilidade - às vezes torna-se criança dócil, afetuosa, procura proteção e aprovação do adulto; outras vezes, assume o papel de moça ou rapaz, libertando-se ostensivamente da influência do adulto.

B - Personalidade que se busca
O pré-adolescente não se satisfaz com o mundo da criança e procura tudo que lhe permita entrar no mundo dos adultos. Procura nos adultos atitudes exteriores que possa imitar. Os valores que atraem são diferentes para os dois sexos:
• meninos - valores de ação exterior: coragem, força, trabalho, gosto da criação;
• meninas - amor, sentimento, o dom de si, o devotamento ao próximo.
A revolução fisiológica da puberdade faz com que desperte neles um interesse marcante por tudo o que diz
respeito ao corpo e aos problemas da vida.

C- Personalidade com sonhos de grandeza
Essa idade é muito idealista:
• fervor imaginativo e heróico; ação entusiasta, mas pouco perseverante.
Os pré-adolescentes são capazes de grandes projetos, mas nem sempre os realizam e tendem a desanimar por causa disso. O educador deve sustentar seus esforços de generosidade e de dedicação, tornando-os confiantes, apesar dos fracassos. Essa necessidade de beleza moral e de grandeza, faz com que o pré-adolescente seja muito sensível aos exemplos do herói. O educador conseguirá tanto mais êxito quanto mais ele mesmo encarnar, para os pré-adolescentes, esse impulso para uma vida maior, mais intensa. O testemunho do educador da fé, seu exemplo de vida, é mais importante do que seus conselhos, proibições, etc. Deve ser uma pessoa que saiba atrair para Cristo.

2 - CONSCIÊNCIA MORAL E RELIGIOSA
A - Moral
1. semelhante à etapa dos 9 aos 12 anos - é a idade da lei, casuística e moralizadora.
2. sente, entretanto, necessidade de uma liberdade moral: recusa uma lei imposta de fora.

B - Religiosa
• orienta-se para um Deus mais pessoal;
• procura certa eficácia na Religião;
• nem sempre gosta de participar de atos litúrgicos.

3 – A EDUCAÇÃO DA FÉ
1. O ensino religioso deve se basear numa preocupação doutrinal sólida e clara pois esta idade é exigente do ponto de vista intelectual.
2. O catequista deve levar o adolescente a unir suas descobertas com a mensagem cristã - ter uma visão cristã da vida.
3. Procuremos educar-lhe a liberdade nascente. “A liberdade do homem encontra a sua verdadeira e plena realização na aceitação da lei moral dada por Deus.” (V.S. 35).
Alguns caminhos possíveis


A- Conteúdo mais explicitamente doutrinal.
• Cristo revelando a grandeza de Deus e também a do homem.
• Cristo ensinando a verdadeira liberdade.

B- Linha histórica - Heróis do Antigo e Novo Testamento e outros heróis da Fé.

C- Temas da atualidade
-> Aproveitar acontecimentos da vida real e confrontar com a mensagem cristã.
“A criação de um ambiente educativo da fé é uma exigência não só metodológica, mas de conteúdo, especialmente em se tratando de crianças e jovens. Eles necessitam de apoio, acolhida, alegria, presença fraterna de educadores adultos, além de um mínimo de estruturação de suas atividades.” (CR - 137)

4 - PROCESSOS PEDAGÓGICOS
Faz-se necessário um novo estilo: sério, alegre sem ser vulgar, provocativo para o Transcendente, para o desejo de ultrapassar-se na busca da Verdade, da Ideal e da Vida.
1. Novo ritmo de palestra: diálogo orientado pelo educador; proporcionar descobertas em vez de transmiti-las.

2. Atividades que respondam a sua curiosidade intelectual e necessidade de atividade.

Sugestões
-> visitas, entrevistas;
-> utilização de filmes; músicas; poesias
-> testemunhos de cristãos atuantes
-> painéis, álbuns coletivos;
-> trabalhos de pesquisa partindo sempre de documentação.


“É importante que, já como adolescentes e jovens, realizem ações transformadoras no seu ambiente específico” (CR - 137).


“O grupo tem uma importante função nos processos de desenvolvimento das pessoas. Isto vale também tanto para a catequese das crianças, favorecendo a boa socialização das mesmas, quanto para a catequese dos jovens, para os quais o grupo constitui uma necessidade vital na formação da sua personalidade, e até mesmo para os adultos entre os quais se promove um estilo de diálogo, de compartilha e de co-responsabilidade cristã. (...) Além de ser um fator didático, o grupo cristão é chamada a ser experiência de comunidade e forma de participação à vida eclesial, encontrando na mais ampla comunidade eucarística, a sua meta e a sua plena manifestação. Jesus disse: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles ”(Mt 18,20) – (DGC 159).